Sobre os Velhotes Digitais e como chegámos ao ano 2020.1
Se há estudos em que acredito, são os que dizem que os utilizadores mais activos das redes sociais são os velhotes. E por velhotes entenda-se 40 anos para cima.
Ignoremos a temática de associação de rótulos a idades de uma forma pejorativa, e passemos a olhar à nossa volta ligando os nossos gadgets para conferir a veracidade destes estudos.
Toda gente tem conta numa rede social qualquer.
Aliás, a internet é em si uma rede social, não interessa de que plataforma desta obtemos o conteúdo.
Podem (dizer) não usar - e isto é uma área mais cinzenta que o fundo de um cinzeiro - mas vão lá nem que seja uma vez por ano. Ora se isto não se trata duma fidelização num ginásio ou duma assinatura da revista DECO que às vezes até dá jeito, uma vez por ano, quando mandam o guia fiscal para ajudar a preencher o IRS, a pessoa vai e sai quando e onde quer - excepto os chineses claro.
Podemos agradecer ao cada vez mais facilitado e crescente acesso às redes a grande diversidade de utilizadores que existem nas redes. Mas neste texto em concreto vamos focar-nos nos velhotes.
Se por um lado as gerações mais novas cresceram com as redes, e por isso é-lhes algo natural, por outro o mesmo não aconteceu com os velhotes.
Para os velhotes, se um Facebook fosse um espaço físico, seria uma mistura de bordel com café, 24h por dia aberto, sempre com a televisão ligada na CMTV e um picture-in-picture da bola.
Tal mistura só podia dar merda. Até porque não faz muito sentido servir bicas em cima do nabo de alguém. Dava no entanto um excelente candidato a notícia de ultima hora.
Tornou-se uma candyland de estímulos, está a meu ver, a caminhar na direção de um descontrolo total.
De repente toda gente passou a ter um passe vitalício de entrada neste café de origens duvidosas. Quem é membro tem uma voz, sedenta de querer ser ouvida, partilhada, sem filtro.
Estão a ver a norma de "se não tens nada de positivo a acrescentar mais valia estar calado"? Não entra neste café.
O que outrora foi um local de partilha, de piadas e discussão alheia, tornou-se num palco de decapitação da idade média. Toda gente atira fruta podre. Ou.. likes.
Se no meio disto tudo sou excepção ou não, não sei. O meu objectivo é sempre partilhar um raciocínio diferente dos restantes sobre o que me rodeia quando acho que faz sentido partilhar. E sim, como na história do Quasimodo, sinto-me a Esmeralda a fugir da polícia.
Olho da mesma forma crítica para os velhotes da internet de hoje como olhava para as pitas do ask.fm de antigamente. Picam-se umas às outras, insultam-se, actualizam o estado do msn com dicas para quem a carapuça servir. Enfim, um espectáculo digno de pipoca. Bons tempos.
Onde é que essas pitas andam agora? Na sombra da vergonha alheia, rezando para que nunca associem as caras delas aos infames videos que foram parar ao youtube. No fundo perceberam cedo as consequências do dito popular "uma vez na internet, para sempre na internet".
Os velhotes não. Estão-se a cagar, no regrets, siga para a frente, sem reservas.
Não interessa se a opinião de hoje um dia ja não será válida. É demasiado fácil dizer o que se quer, não há filtro.
Sou contra haver qualquer espécie de filtro no que se diz. O filtro devia vir de todos nós. É como quando um amigo nos pergunta se queremos uma pastilha. Mesmo que até apeteça podemos não aceitar. A pessoa só ofereceu por cortesia. O mesmo aplica-se à opinião, não é preciso estar sempre a dá-la.
Sou contra o que o algoritmo acha ser "relevante" e "para mim". Sou a favor da pesquisa pelo que me interessa, do acaso que não me interessa e do que um dia me pode vir a interessar.
Como é que se pode dar lugar à evolução do espírito crítico sem haver espaço para as diferenças de pensamento se todos os dias o algoritmo aponta-nos sempre o mesmo?
Por não ter gostado dum assunto em particular, não quer dizer que não queira voltar a saber de outros do género. É tão perigoso vivermos num mundo em que só nos é mostrado aquilo que gostamos naquele momento. É cada vez mais difícil desenvolver gostos.
Não me surpreende a ausência de gente jovem a participar na discussão politico-social. A opinião - quando contrária da maioria - não é bem recebida, é sim repudiada e até em alguns casos censurada.
É cada vez mais viral o extremismo, quando o objectivo deveria trabalhar a cedência, o encontro de ideias. Impingir incansavelmente uma ideia que achamos positiva, acaba por ter efeito oposto e derrota o propósito.
E nesta conjuntura viraliza-se não só o famoso e incansável COVID mas também a desinformação. Ambos, aparentemente de fácil transmissão.
Seria fácil culpar os velhotes de todo o mal que acontece no mundo, mas a verdade é que os jovens também não transmitem esperança de uma reviravolta. E também é culpa dos jovens não terem tido a paciência de educar os pais a mexer nas redes sociais.
Basta olhar para os anúncios do Minipreço.
Quem aprovou esta ideia de merda foi certamente um velhote.
Os jovens?... o mais provável é estarem a fazer tiktoks, estão-se a cagar para os velhotes.


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