Uma salva de palmas para quem não bateu as palmas


Se houvesse um manual com o segredo de qual a melhor altura para lançar ou relançar um blog durante a vida, a resposta está aqui - Agora - Porquê? Porque está tudo em casa a coçar a micose e sem falta do que fazer.

Não é uma pandemia à escala global que iria impedir o ser humano de se aproveitar desta para proveito próprio, e eu estou muito longe de ser A excepção.

Olhando à nossa volta, verifica-se que um pouco por todo o lado, todos tentam tirar o melhor partido desta situação para proveito próprio. Uns com proveito imediato, outros tardio.

Eu sou um daqueles insensíveis, do contra, que se recusou a ir para a janela feito estúpido bater palmas a uma determinada hora em prol duma ação simbólica para com os "heróis" do SNS. Quem o fez, bateu palmas aos vizinhos. Porque a menos que um dos vizinhos trabalhe para o SNS, então as pessoas estiveram só a bater palmas a pessoas aleatórias, talvez por estarem em casa como era suposto, não sei.

Este confinamento já vai longo, e quase no fim (supostamente). Tão longo ao ponto de me trazer aqui e mandar umas postas de pescada para o vazio da web.

Não consigo distinguir o que é mais parvo: se bater palmas ou fazer festas de discoteca na varanda.
Independentemente da escolha do leitor, ambas têm um de dois propósitos: sentir-se bem consigo próprio, ou aparecer na televisão. Pensando melhor é apenas um, porque sem querer ou não, é capaz de ter aparecido na televisão.

Este não é um texto de crítica a quem bateu as palmas, mas sim uma chamada de atenção.

Para todos nos lembrarmos que cada vez que os ditos "heróis" fazem greves a reclamar por melhores condições de trabalho / vida, cheira-me que os primeiros a bater palmas não vão tão pouco deixar escapar a oportunidade de serem os primeiros a criticá-los porque tiveram a sua consulta adiada.
Aí já não será nas varandas ou janelas, mas sim no café, a mandar postas de pescada entre amigos.
Emoções forte como cantar o hino às forças de segurança não passará de uma memória.
Caindo na realidade da rotina, essa sobrepor-se-à à memória que os mesmos fazem parte da elite função pública, e que por terem direitos diferentes dos restantes, o estatuto de "herói" já está tão morto que não há ventilador que o salve.

Bater palmas como agradecimento a um profissional por fazer o seu trabalho num tempo em que provavelmente mais ninguém o pode fazer, é mais ou menos como ir às putas e pedir moratória por tempo indefinido.

Depois não se queixem, batam palmas!

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